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OPINIÃO: A quem servirá o caos? O cidadão é quem paga

Já contei aqui a observação de pesquisador social europeu a respeito dos brasileiros no final da década 1981/90: "a impressão é que vocês vão se suicidar coletivamente no Atlântico". Imagino o que estará pensando agora se ainda não assimilou a nossa mania de ter periodicamente profundas crises de autoestima e depressão coletiva e considerar tudo por aqui pior do que no restante do mundo.

É difícil escrever durante evento indefinido. Reflito na quarta-feira e os leitores estarão conhecendo o texto no fim de semana. No momento em que redijo, elevado percentual de brasileiros faz um grande esforço pelo suicídio. Espero que não consigam. Já se autoflagelaram e vão pagar enorme preço na qualidade de vida, na economia que tinha tênues sinais de recuperação, no mercado de trabalho que esboçava reação.

Quem não sabe que colapsar os transportes impõe graves sacrifícios a todos os setores da sociedade? Que os prejuízos recairão muito mais sobre cada cidadão do que sobre autoridades e instituições? No entanto, a tentativa de caos foi aplaudida pelos futuros prejudicados.

O brasileiro parece um sujeito que quer ver o circo pegar fogo. Detalhe: com ele dentro. Quem vai ser queimado?

Nas grandes manifestações de 2015 e nas de agora, experimentamos novo tipo de reação que já provocou acontecimentos impactantes neste terceiro milênio: forte mobilização pelas redes sociais, ausência de lideranças capazes de representar e coordenar, pautas de contestação sem clareza em reivindicações e objetivo a ser alcançado. Existem componentes reais (em 2015 o preço das passagens urbanas, hoje o preço dos combustíveis, especialmente o diesel), mas só na arrancada, depois são abandonados porque há uma variedade de intenções e interesses divergentes formando o caudal contra algumas coisas, mas absolutamente discordantes sobre o que ser a favor.

Por isto, não desaguam em nada positivo a médio e longo prazo. Foi assim A "primavera árabe". Derrubaram governos, mas não havia maioria capaz de construir alternativa. Terminaram sendo inocentes úteis de grupos menores, organizados. A Líbia virou caos entre facções, o Egito terminou caindo num governo autoritário.

O que querem apoiadores da atual tentativa de caos? O grupo da pauta concreta, negociou, conseguiu avanços. Outros querem abolir a corrupção: esta não se termina por lei ou espada, terá de ser contida pelo esforço e consciência de todos (aliás, quanto abuso cometeram, durante a crise, alguns que reclamam da corrupção dos outros!). Derrubar governo? Deveriam ter se mobilizado quando a Câmara votou as licenças para processar o presidente; agora, a poucos meses das eleições gerais, apear governo traz apenas tumulto e desorganização! Ou a tal de "intervenção" à moda dos golpes de antanho, levando cizânia para os quartéis e despertando ambições pessoais, sem amparo na Constituição ou na realidade atual, salto no escuro da imponderabilidade sem regras? Bom senso, por favor.

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